Nessa última terça-feira, a TV1 realizou um evento em celebração aos seus 25 anos, conciliando com a 3º Agenda do Futuro, iniciativa bacana que incentiva a reflexão sobre as mudanças na comunicação. Para tal exercício e celebração, eles convidaram Don Tapscott, especialista em comportamento digital e autor de diversos livros sobre o assunto, entre eles Grown Up Digital e Wikinomics. Seguem os principais pontos da apresentação de Tapscott.
Ele começa falando que hoje vivemos uma revolução, mas não é qualquer revolução. Estamos vivendo a revolução da revolução. A internet está mais que presente nas nossas vidas e temos acesso total ao conteúdo, desde uma música até informações para diagnosticar uma doença. Não podemos calar a boca da internet, temos que nos adequarmos à ela porque a cultura está sendo transformada pelos nativos digitais. Ou seja, temos que imigrar para esse novo mundo. Essa é uma revolução das revoluções pois não é cíclica como uma crise econômica, não existe métrica e regra, ela é uma mudança definitiva e diferente de tudo o que já aconteceu.
O autor traça uma cronologia de eras, começando pela Agrarian Age que, através da mídia impressa, pode evoluir seu conhecimento até chegar a Industrial Age. Agora, a internet está possibilitando que as pessoas sejam os próprios publicadores, sejam a inteligência, o que potencializa o compartilhamento e o conhecimento, fazendo com que a sociedade migre para a Age of Networked Intelligence. Um momento novo, desafiador e, por isso, extremamente estimulante. Para Tapscott, essas mudanças devem-se a alguns fatores que ele chamou de Drivers of Change:
Technology Revolution e Web 2.0: Uma comunicação horizontal, descentralizada, onde qualquer objeto ou pessoa pode ser uma mídia, onde a web não trata apenas de dados, mas de realidade. E estamos surfando essa realidade através da internet.
Net Revolution: São os nativos digitais. Os jovens não tem medo da tecnologia e da internet. Assim como pessoas da idade de Tapscott, imigrantes digitais, não tem medo de um refrigerador. E essa é uma questão importante no marketing, pois estamos consumindo mídia de forma diferente, a televisão já não é o mais importante, hoje ela é uma mídia ambiente e está no background do consumo de informação.
Aqui ele comenta sobre um conceito chamado Generation Lap. Hoje os jovens são verdadeiras autoridades em relação aos seus pais, entretanto, eles consomem o mesmo conteúdo. Um iPod do filho tem as mesmas músicas que o iPod do pai (Beatles, Rolling Stones, Mutantes). Só que isso significa que o filho já deu uma volta inteira (Lap) para chegar naquele estágio. Hoje, os pais são retardatários do consumo de conteúdo.
Social Revolution: Neste ponto ele mostra diversos gráficos traçando um comparativo entre o que é tradicional e o que é colaborativo. Ele mostra a curva de consumo de conteúdo do Twitter versus o consumo do NYT, entre outros exemplos, defendendo que essas instituições antigas estão falhando em entender esse novo mundo. E ele dá um exemplo pessoal de que o Twitter é o seu jornal, onde ele tem as suas listas, separadas por tipo de conteúdo. Também lembra o exemplo do Obama que criou uma plataforma de colaboração enquanto seu rival criou um site em html.
Economical Revolution: As empresas estão estendendo suas atuações, o que ele chamou de extend enterprise. Isso faz com que sua presença fique muito frágil, pois ela acaba não tendo pleno controle de todas suas manifestações. Dessa forma, a colaboração é o que torna essa presença sempre relevante, as organizações tem que delegar sua atuação às pessoas. Neste ponto ele contou que, ao ouvir sobre a morte de Bin Laden, entrou no wikipedia e já tinham mais de 50 pessoas editando o artigo sobre aquela pessoa, nenhuma enciclopédia teria tal atualização se não fosse a colaboração.
Na parte final da apresentação de Don, ele fala da transformação do marketing, chamou de The Transformation of Marketing for the Age of Networked Intelligence. E ele demonstra isso através das mudanças dos 4P´s:
Product = Experience: Ele cita Starbucks, Apple e comenta que a indústria da música tenta vender música como produto enquanto deveria vendê-la como experiência.
Place = Anyplace: Estamos online a todo o momento e a geolocalização é uma oportunidade para a comunicação. Citou também o Google Goggles, um aplicativo de busca visual.
Price = Discovery Mechanism for Price: Quanto vale uma recomendação, um like, qual é o valor da moeda social ou do preço do seu produto. Hoje temos a oportunidade de comercializarmos valor. Ele cita uma start-up recém lançada chamada GiveGet, um site intermediador onde você pode trocar algum objeto seu por uma entrada no cinema, por exemplo.
Promotion = Engagement: As empresas não devem mais ser focadas no consumidor, mas sim fazer com que eles se sintam donos da empresa, que eles colaborem, opinem e sintam-se comprometidos com aquela marca. Ele cita o Threadless , site tipo o “nosso” Camiseteria, onde as pessoas são responsáveis pelas estampas e ganham participação nas vendas.
E, por último, ele acrescentou um novo termo: Brand. Para ele, uma marca tem a responsabilidade de ser íntegra, ou seja, honesta com o produto que vende e transparente no seu processo e relações pois não temos mais o controle pleno das marcas, mas sim as pessoas na forma de colaboração.
Ele termina dizendo que vivemos em tempos de desconfiança e agonia, não temos mais o controle de tudo como antigamente. Entretanto, esses é um dos momentos mais maravilhosos para se estar vivo, estamos vivendo a revolução da revolução, um momento de oportunidades e que está além de um indivíduo, uma organização, uma sociedade ou mesmo apenas um mundo. É um momento de colaboração.
Pessoalmente, gostei bastante da apresentação. Algumas vezes ele se prendia demais em assuntos que, para um nativo digital como eu, já é um tanto óbvio e chato. Mas, pelo número de cabeças brancas na platéia, acho que foi na intensidade e tom certo. Com certeza muitos saíram motivados à mudanças e acho que isso só traz benefícios, sejam para imigrantes ou nativos digitais.